segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Obrigada, por tudo e para sempre!
Muita gente que le esse blog sabe bem como esse ano que passou tem sido um ano bem desafiador e dolorido para mim e toda a minha família. Não quis escrever detalhes no post passado com o resumão do ano... além de ser muito difícil para mim escrever, achei que merecia um post exclusivo.
Seis meses depois que eu estava aqui em Perth, meu pai descobriu que estava com um tumor maligno na bexiga que foi removido completamente. Após iniciar um tratamento de quimioterapia pós cirurgia, meu pai descobre que tem um tumor também no reto. Começa então uma radioterapia. Seis meses passados de quimio e radio, ele descobre que seu fígado também tem alguns pontos de tumor. Depois de uma cirurgia para a remoção do tumor no intestino (com a aplicação de uma colostomia), uma batelada de quimios fortíssimas se seguiu por quase um ano e meio.
Bom... vocês podem imaginar o que foi esse período da vida de meu velho (e da minha velha que viveu cada segundinho disso diretamente com ele)... afastamento do trabalho, da vida social e uma imensa batalha contra esse monstrinho chamado cancer... Eu chorei e sofri muito desde a primeira notícia... ver uma das pessoas que mais amo nesse mundo sofrer e não poder fazer nada, absolutamente nada para mudar é um dos sentimentos mais terríveis que já senti até hoje em minha vida, estando a milhas de distância, não podendo nem mesmo oferecer ajuda... terrível... mas certamente não é um centésimo do que o meu papis sentiu em cada tomografia, PET Scam, sessão de quimio, cada pensamento sobre seu futuro,...
Mas apesar de tudo isso JT (assim como eles gostava de ser chamado) tinha uma força e uma fé incrível, realmente admirável! Ele não entregou os pontos, nem o sorriso, em nenhum momento! Essa força dele foi o que me deixou em pé nesses dois anos... foi o que me fez não parar a minha vida para sofrer e me lamentar pelo o que estava acontecendo... (aliás, ele me fez prometer que isso não aconteceria!) se JT naquela situação conseguia fazer piada, dar risada e ter fé... que direito tinha eu de me lamentar? Como eu poderia reclamar por ter de acordar cedo para trabalhar? Todas as vezes que esse tipo de lamentação passava por minha mente, eu só conseguia pensar na situação do meu velho e instantaneamente elas sumiam...
Em julho desse ano meu velho completou 60 anos, mas quem ganhou presente fui eu... consegui passar um mês em Ribeirão com ele, foi um mês muito intenso... conviver com ele nesse período foi um presentão para mim, apesar de vê-lo fisicamente muito mal, piorando literalmente a cada dia, foi uma graça imensa poder ter esse tempo de dedicação e convivência com ele.
Após 2 anos vivendo cada milésimo de segundo como se fosse o último de sua vida, meu herói não venceu a batalha... 17/8/2012 foi o último dia de sua fantástica vida nesse plano (porque eu acredito que ele continua a viver em algum outro lugar!). Mas com certeza ele venceu a guerra! Primeiro porque quem perde lutando já é um vencedor e segundo porque a vida que ele viveu e o legado que ele deixou faz dele um herói e um grande exemplo no qual se inspirar. Não, ele não era um santinho, quietinho, que não xingava e não cometia erros... o oposto disso... quem conviveu com ele bem sabe o bom calabrês que ele foi, mas o que mais me inspira e me encanta quando olho para a vida de meu pai é justamente isso... a possibilidade de ser “santo” (não no sentido pejorativo da palavra) sem ser santo (no sentido pejorativo da palavra), a possibilidade de recomeçar a cada batida do coração.
Apesar da dor imensa que sinto constantemente aqui dentro, saber que ele não sofre mais, que não sente mais dor me dá paz. Agora, sem a barreira da matéria, ele está e sempre estará comigo ... porque metade de mim é ele!
“Obrigada, por tudo e para sempre!”
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